terça-feira, junho 23, 2009

O homem que sabia demais

Diz se da história do homem que sabia demais.
Ganhara duas vezes na Mega Sena - a segunda só para manter sua fortuna, que estava acabando, mas jurara para si mesmo que nunca mais apostaria na Mega Sena outra vez. Jogava agora na Dupla, na Quadra e na Quina, e, por diversão, na Lotogol. Usava raspadinhas para comprar seus carros - era o terror das lotéricas.
Era consultado por professores, economistas, cientistas, presidentes... (tanto de empresas quanto de países).
Espalhou a cura para os males do mundo, evitou o aquecimento global, novas pandemias.
Recusava-se a dar respostas sobre os segredos do universo.
- Existe vida em outros planetas?
Ele sempre ficava calado, nunca respondia. Mas tinha encontro com habitantes do planeta AC280X às sextas, pelo menos uma vez por mês, para jogar um truco, um poker, jogar conversa fiada.
Sabia o que as mulheres queriam. Tinha poder, dinheiro, mulheres.
Mas um dia não conseguiu prever sua vinda.
Veio repentina.
Arrasadora.
Bruta.
Tomou-o de jeito e o derrubou.
Clarice, era o nome dela. Conquistou-o desde a primeira vez que a vira; não previra, porém, uma relação tão profunda e duradoura.
Apaixonou-se, casou-se, teve filhos. 3 lindos filhos. Ricardo, Fábio e Mariana. Eram sua paixão.
Não previra, ainda, que seu dom se acabaria com o tempo. Aos 40, tinha de concentrar-se para lembrar dos resultados futuros das loterias.
Aos 47, internou a si mesmo por prever, com 1 dia de antecedência, um AVC. Foi a notícia do Brasil durante 5 dias, até que ele saiu do hospital, acompanhado dos filhos e da mulher, que não o deixara desde o momento em que ele entrara no hospital.
Aos 51, ouvia constantemente reclamações dos frequentadores das lotéricas em que ia.
Tinha de ficar 30 minutos lá, parado, para lembrar se havia ao menos uma raspadinha premiada. Não tinha paciência para fazer os jogos das loterias nas lotéricas, passara a fazer em casa, e de hora em hora, escrevia 1 número, porque lembrava-o enquanto fazia outras atividades.
Deixou de ser consultado por grandes personalidades.
Ao 62 anos ganhou o prêmio Nobel da Paz, não previra.
Não previra o novo vírus, que dizimara 1/5 da população norte-americana, e 1/10 da européia. Não previra o gigante terremoto que abalou até mesmo localidades onde nunca se considerou a hipótese de terremotos.
Não previra a desumanização das pessoas, que tornaram-se cada vez mais frias e anti-sociais devido à tecnologia.
Passou a isolar-se.
Não sabia mais de nada, era agora um pessoa normal. Guardava suas amarguras para si mesmo, e suas dúvidas sobre as ações do passado - teria ele feito tudo corretamente?
Começou a tornar-se paranóico.
Depressivo, não saía mais de casa.
Temia estranhos, tinha medo de animais, bactérias. Passou a medir tudo o que comia, peso, altura, largura, espessura. Suas comidas preferidas eram as bolachas de agua e sal, por serem uniformes.
Agia estranho. Agia estranho nos jantares em família, não falava com ninguém.
Um dia depois de um jantar em família, beijou sua esposa ao acordar como não fazia há dezenas de anos, ligou para seus filhos e saiu. Nunca mais voltou.
Sabia ainda o dia em que morreria; hoje.

3 comentários:

Anônimo disse...

gostei muito dudu, *-*


obs: de mariana, a filha do homem que sabia demais.

Eu disse...

era comunista? =/

Anônimo disse...
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